segunda-feira, 25 de maio de 2020


Platão – Um Alicerce da Filosofia Ocidental

Quem foi Platão?
Platão (427-347 a.C.) era ateniense e provinha de uma antiga família pertencente à nobreza da cidade. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, palavra grega que significa “de ombros largos”.
Foi discípulo de Sócrates, a quem considerava o mais sábio e o mais justo dos homens. Depois da morte de seu mestre, Platão empreendeu inúmeras viagens, período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas. Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus.

Dualismo platônico
Em sua doutrina, conhecida como teoria das ideias, Platão propôs uma ideia sobre o ser dualista. Para ele, existiriam duas realidades opostas:
                        - Mundo sensível: corresponde à matéria e compõe-se das coisas como as percebemos na vida cotidiana, isto é, pelas sensações, as quais surgem e desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo sensível são temporárias, mutáveis e corruptíveis.
                        - Mundo inteligível: corresponde às ideias, que são sempre as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem experimentar a dimensão do eterno, do imutável, do perfeito.
Por exemplo: quando você pensa um círculo ele é sempre é perfeito, pois está no mundo inteligível, mas se você o desenhar, ele terá algumas irregularidades, sendo, portanto, imperfeito, pois está no mundo sensível. O ser (círculo) no mundo inteligível é perfeito, no mundo sensível é imperfeito.
O conhecimento, conforme Platão, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das ideias. Para atingir esse mundo, o ser humano não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia).

O método platônico
O método proposto por Platão para realizar a passagem da opinião ao saber e atingir o conhecimento autêntico (episteme) é a dialética. A dialética consiste basicamente na contraposição de uma opinião à crítica que podemos fazer dela, ou seja, a discussão e a negação de uma tese com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos permitindo chegar às ideias verdadeiras. Por exemplo: Pense na ideia que você tem de felicidade. Será que sua ideia é autêntica, verdadeira ou apenas uma opinião pessoal. Se você se dispor a conversar (dialogar) com alguém sobre esse assunto, possivelmente saíra do diálogo com um conhecimento mais amplo sobre a felicidade, porque o outro irá questionar suas opiniões e o fará avançar a um saber mais verdadeiro.
Platão dizia: “Se eu tenho uma moeda e você tem uma moeda e eu dou a minha moeda a você, você ficará com duas moedas e eu sem nenhuma; por outro lado, se eu tenho uma ideia e você tem uma ideia, e nós compartilhamos nossas ideias, cada um sairá com duas ideias”.

O Mito da Caverna

Platão criou em seus textos várias alegorias para expor suas doutrinas. A mais conhecida é um mito da caverna, o que nos ajuda a entender a evolução no processo do conhecimento.
O mito fala sobre prisioneiros (que desde o nascimento) vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.
Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois, seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros vão chamá-lo de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.

O que Platão quis dizer com o mito
            Platão quis dizer que, para chegar ao conhecimento verdadeiro é preciso sair das opiniões do senso comum, refletir criticamente, e enxergar as coisas na sua essência, como verdadeiramente são. Isso é filosofar.
Os seres humanos têm uma visão distorcida da realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza o mundo, pois nos apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando saímos da caverna.

Vamos refletir:
1-  Resuma, em forma de tópicos, quem foi Platão.
2- Descreva as duas realidades do ser propostas por Platão.
3- Como se chamava o método utilizado por Platão? Explique resumidamente.
4- Como se chama a alegoria mais famosa de Platão? Resuma em poucas palavras.
5- O que Platão pretendia dizer com a alegoria do mito da caverna? Sintetize.

REFERÊNCIAS:
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Imagem 1: Disponível em: https://beduka.com/blog/materias/filosofia/principais-ideias-platao/ acessado em 25/05/2020 às 19h25
Imagem 3: Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/484277766167237073/  acessado em 25/05/2020 às 19h40






Kant e a ética como ação conforme o Dever

Contexto Histórico:
Costuma-se caracterizar o século XVIII como o “século da moral”, por ter sido profundamente marcado pelo Iluminismo, um projeto pedagógico-político de construção da autonomia da razão e emancipação da humanidade que fornecia os meios intelectuais para uma ação consciente. É nesse contexto histórico e filosófico que se delineia o projeto ético de Kant.

 Immanuel Kant e o seu pensamento ético:
Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, desenvolveu uma concepção de ética baseada na ideia de que as ações humanas são orientadas por intenções, não por finalidades, como afirmava Aristóteles. Kant destaca a noção de dever como intenção fundamental das ações humanas.
As perguntas básicas da ética pensada nesses termos seriam:
O que devo fazer?
Como devo agir?
Para Kant, a vontade não é simplesmente um instinto, um desejo; ela é racional, é resultado do exercício da razão. A razão implica a possibilidade da liberdade humana. Somos livres porque somos seres de vontade. Somos livres porque somos racionais. Somos livres quando temos nossa própria lei, quando nossa lei não nos é imposta por outros. Em outras palavras, somos livres quando somos autônomos.
Autonomia é a capacidade de governar-se por si mesmo, sem obedecer a outro. Para a filosofia iluminista, portanto, liberdade é autonomia, e esta diferencia-se de heteronomia, que é quando se segue as regras ou normas de outro, que não são da própria vontade.

O que torna uma pessoa ética?
Segundo Kant, não é o fato de alguém ter um grande talento proporcionado pela sua natureza, que o torna moralmente excelente. O que realmente importa é o uso que fará deste talento. E sobre ele, é o sujeito quem decide, usando sua liberdade para resolver o que fazer com as aptidões que tem. Portanto, a inteligência, por exemplo, pode ser muito apreciável, mas não é uma qualidade moral. E por que não? Porque ela pode ser colocada tanto a serviço do bem quanto do mal. A inteligência não é por si mesma boa ou má. Será boa se o sujeito tiver boa vontade ao usá-la.
          Assim, podemos usar a inteligência para ensinar, curar, alegrar e muito mais. Em contrapartida, também podemos usá-la para enganar, entristecer, iludir, mentir e também muito mais. Tudo depende da boa vontade. A boa vontade é tudo de bom, diria Kant. Ela, inclusive, levaria os seres humanos a uma maior igualdade. Então, entendemos que os talentos naturais, por eles mesmos, não têm nenhuma relevância moral. Podemos ser gênios canalhas. Lindos heróis ou vilões. O que importa mesmo é a liberdade para decidir bem.

A boa vontade desinteressada e universal
Somos, portanto, igualmente livres para uma boa vontade, indo além dos nossos instintos naturais. Assim sendo, a primeira consequência da nossa liberdade é a boa vontade. No entanto, essa boa vontade deve ter como consequência o desinteresse. Com isso, a nossa liberdade tem como consequência primeira, a boa vontade, mas que deve ser praticada e motivada por uma segunda consequência, que é o desinteresse, ou seja, se faço algo para alguém, o faço porque quis e achei que devia, sem esperar nada em troca.
Ir além da nossa natureza e considerar outros desejos além dos próprios. Supõe não sermos egoístas. Sabemos diferenciar uma ação desinteressada de outra oposta. Qual tem mais valor moral? A desinteressada, supomos. Por isso, achamos tão interessante quando alguém nos faz um favor aparentemente motivado pelo nada, sem esperar nada em troca. Somos kantianos sem saber.
A terceira consequência desta liberdade é o universalismo.  A vontade deve ser uma boa vontade, desinteressada e ser universal (servir para todos). A ação pelo dever, que resulta da razão, deve valer para qualquer um. Portanto, o certo e o errado vão muito além do que é certo ou errado para cada um. Kant diria:
"Faça de tal maneira que sua ação pode ser feita por todas as pessoas. Aja de modo que sua ação possa ser transformada em lei".
Por exemplo: não tomo o que não me pertence. Eu devo agir assim e todas as pessoas do mundo não devem roubar. Perceba a relação entre esse universalismo e o desinteresse.


O Imperativo Categórico
Kant criou uma fórmula chamada de Imperativo Categórico, uma fórmula que ordena (por isso é imperativo) de modo incondicional (por isso é categórico).
Aja unicamente de tal forma que sua ação possa ser transformada em lei universal”
                O que eu devo fazer ou não devo fazer pode ser feito ou não por todas as pessoas.
Por exemplo: eu posso decidir, por vontade própria, não roubar um bem alheio, porque sou capaz de refletir e julgar que não é correto tomar de outro aquilo que não me pertence, e este é um valor universal, que deve ser seguido não apenas por mim, mas por todos os outros.
Outro exemplo: se eu tomar emprestado dinheiro de alguém, devo devolver no prazo combinado, e essa regra vale para mim e para todos os outros. Não posso, pelo contrário, tomar emprestado e só devolver quando eu quiser, desrespeitando a data acordada para a devolução, e exigir que quando eu emprestar dinheiro a alguém, ele devolva-o no prazo combinado. Se agisse assim, estaria produzindo duas regras: uma mais frouxa que vale para mim e outra mais rigorosa que se aplica aos outros. Essa ação estaria, portanto, contrária à fórmula do imperativo categórico kantiano.

Agir com ética exige esforço
A ideia de universalidade implica a negação da própria particularidade. É resistir aos próprios interesses egoístas. Para levar em conta o interesse geral, o bem comum, é preciso considerar o interesse dos outros. E isso não é natural.
Exige esforço. Para ser livre, ter boa vontade, considerar o outro e buscar o universal é preciso ficar sempre atento ao dever, remando, muitas vezes, contra a maré.
Para o pensamento moderno de Kant, a virtude é uma luta contra a natureza em nós. Uma disposição que se aprende. Por não ser inata (que vem naturalmente), exige educação, porque a matéria bruta, a natureza, é egoísta.
De tudo isso, consideramos por fim que não se trata de agir meramente segundo os costumes ou a tradição de uma cultura. Trata-se de agir segundo um princípio que me é dado pela minha própria razão, determinando minha vontade, como um ato de liberdade. Sendo a razão a mesma em todos os sujeitos, a lei pensada pela razão também será a mesma, ainda que os sujeitos sejam diferentes.
Fica a questão: agimos como devemos agir, baseando-nos em regras universais que nos são dadas pelo exercício do pensamento racional?


Vamos refletir:

1.   Encontramos na moral cristã a regra: “Não roubarás”. Sendo cristão, devo viver de acordo com essa regra. Caso contrário, poderei ser punido. Ao fazer isso estou agindo de forma autônoma ou heterônoma? Explique.
2.   Considerando a mesma situação acima (não roubar), como ela poderia ser analisada de acordo com o imperativo categórico kantiano?
3.  Explique as condições para que uma ação seja ética, conforme Kant. (liberdade, boa vontade, desinteresse, universalidade)
4.   Por que, segundo Kant, o imperativo categórico é importante para a construção da sociedade humana?

Referências Bibliográficas:
FILHO, Clóvis de Barros; POMPEU, Júlio. A Filosofia Explica as Grandes Questões da Humanidade. Editora Leya. Rio de Janeiro. 2013.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus. 2010.
___________ Filosofia: experiência do pensamento. Volume único. 2ed. Scipione. São Paulo. 2016.


domingo, 10 de maio de 2020


Liberdade em Jean Paul Sartre.


O que é liberdade?
Segundo o Dicionário de Filosofia, em sentido geral, o termo liberdade é a condição daquele que é livre; capacidade de agir por si próprio; autodeterminação; independência; autonomia.
A história desse conceito perpassa os estudos de épocas e pensadores diversos e registra a interpretação de doutrinas sociais bastante variadas. Podemos fazer uma distinção inicial entre o que se convencionou chamar de concepção “negativa” e “positiva” da liberdade.
 Em seu sentido negativo, liberdade significa a ausência de restrições ou de interferência. O sentido positivo de liberdade significa a posse de direitos, implicando o estabelecimento de um amplo âmbito de direitos civis, políticos e sociais. O crescimento da liberdade é concebido como uma conquista da cidadania.
No sentido político, a liberdade civil ou individual é o exercício de sua cidadania dentro dos limites da lei e respeitando os direitos dos outros. "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro" (Spencer).
Em um sentido ético, trata-se do direito de escolha pelo indivíduo de seu modo de agir, independentemente de qualquer determinação externa. "A liberdade consiste unicamente em que, ao afirmar ou negar, realizar ou enviar o que o entendimento nos prescreve, agimos de modo a sentir que, em nenhum momento, qualquer força exterior nos constrange" (Descartes).
A liberdade de pensamento, em seu sentido estrito, é inalienável, inquestionável. Reivindicar a liberdade de pensar significa lutar pela liberdade de exprimir o pensamento. Voltaire ilustra bem essa liberdade: "Não estou de acordo com o que você diz, mas lutarei até o fim para que você tenha o direito de dizê-lo."
T. Hobbes afirma que o “homem livre é aquele que não é impedido de fazer o que tem vontade, no que se refere às coisas e que pode fazer por sua força e capacidade”.
Kant diz que ser livre é ser autônomo, isto, é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.
No livro “A sociedade do espetáculo” (1997), Guy Debord, ao criticar a sociedade de consumo e o mercado, afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre optar entre duas ou mais coisas prontas, isto é, pré-determinadas por outros. Uma sociedade como a capitalista, onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir, impede que os indivíduos sejam livres na sua vida cotidiana. A vida cotidiana na sociedade capitalista, segundo Debord, se divide em tempo de trabalho e tempo de lazer. Assim, a sociedade da mercadoria faz da passividade (escolher, consumir) a liberdade ilusória que se deve buscar a todo o custo, enquanto que, de fato, como seres ativos, práticos (no trabalho, na produção), somos não livres.
De maneira geral, a liberdade de indivíduos ou grupos sempre sugere, ou tem a possibilidade de implicar, a limitação da liberdade de outros.


O Existencialismo
“O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”.
      O filósofo que mais se preocupou em discutir temas relacionados com a liberdade, para o exercício da ética, foi o francês Jean-Paul Sartre (1905 - 1980).
Jean-Paul Sartre tornou-se o filósofo mais conhecido da corrente filosófica existencialista. A filosofia existencialista concentra-se sobre o nosso estar no mundo e sua principal preocupação diz respeito às condições que criamos para nossa existência e não às condições criadas pela Natureza. Conforme Sartre, nós existimos no mundo e depois definimos o que queremos ser. “O homem tem a liberdade de fazer-se”. Isto é, podemos construir a nossa existência conforme as escolhas que fazemos.

A Liberdade
Sartre deu atenção especial ao tema da liberdade e da angústia que se sente pela insegurança, ao ver-se, constantemente diante de situações que exigem que façamos escolhas.  E essas escolhas precisam ser éticas, pois vivemos com outras pessoas.
Sartre defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável (que não se pode negar) à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, já que sempre haverá uma opção de escolha. Ser humano não pode viver sem fazer escolhas, essa é sua "condenação".
Mesmo diante de A, pode optar por escolher não-A. Quer dizer, mesmo diante de uma coisa (A), pode escolher o contrário (não-A). Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que decide sobre o seu destino. O próprio destino depende das escolhas que cada um faz para sua vida.

A existência precede a essência
O argumento de que a essência precede (vem antes) a existência implica a necessidade de um criador; assim, quando um objeto vai ser produzido (um martelo, uma caneta, uma máquina), ele obedece a um plano pré-concebido, que estabelece sua forma, suas principais características e sua função, ou seja, ele possui um propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade, e precede a sua existência.
Sendo Sartre um representante do existencialismo ateu (que não considera a existência de um deus), ele defende que há um ser onde essa situação se inverte, e a existência precede a essência: o ser humano. Assim, seria o próprio homem o definidor de sua essência, e não Deus, como falava o existencialismo cristão. Isso significa que, para ele, o ser humano é um nada quando nasce, isto é, quando passa a existir. Só depois, à medida que vai existindo e se definindo é que passa a ser (ser algo). No início há apenas esse nada, que confere ao ser humano a liberdade de escolha e a grande responsabilidade de construir a si mesmo dentro das condições encontradas desde seu nascimento. 
        Em sua conferência "O existencialismo é um humanismo", Sartre afirma que o ser humano é o único nesta condição; nós existimos antes que nossa essência seja definida. Esse seria um dos preceitos básicos do Existencialismo. Assim, o autor nega a existência de uma suposta "essência humana" (pré-concebida), seja ela boa ou ruim. As nossas escolhas cabem somente a nós mesmos, não havendo, assim, fator externo que justifique nossas ações. O responsável final pelas ações do homem é o próprio homem.

Liberdade e Responsabilidade
      Nesse sentido, o existencialismo sartriano concede importante destaque à responsabilidade: cada escolha carrega consigo a obrigação de responder pelos próprios atos, um encargo que tor na o homem o único responsável pelas consequências de suas decisões. E cada uma dessas escolhas provoca mudanças que não podem ser desfeitas, de forma a modelar o mundo de acordo com seu projeto pessoal. Daí a importância de usar bem a liberdade para agir de maneira ética nas relações sociais.
        Assim, perante suas escolhas, o homem não apenas torna-se responsável por si, mas também por toda a humanidade. Essa responsabilidade é a causa da angústia dos existencialistas. Essa angústia decorre da consciência do homem de que são as suas escolhas que definirão a sua essência, e mais, de que essas escolhas podem afetar, de forma irreversível, o próprio mundo. 
A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade em usá-la de forma adequada (Ética).

Um dos temas filosóficos que mais pode despertar o interesse e a curiosidade é o da intersubjetividade, isto é, as relações entre os indivíduos. A partir da perspectiva do filósofo francês Jean-Paul Sartre, pode-se refletir sobre esse assunto tão complexo, e que nos afeta cotidianamente.
 Há uma frase bastante famosa de Sartre, presente em uma das peças de teatro que ele escreveu, chamada Entre quatro paredes (Huis clos no original francês), que pode resumir o ponto de vista do autor sobre a intersubjetividade: “o inferno, são os outros”. À primeira vista, essa frase pode ser lida como um atestado de pessimismo quanto ao sucesso das relações humanas – mas, não é bem assim.
Em sua principal obra, O ser e o nada, Sartre aponta que a característica essencial do homem é sua liberdade radical (isto é, o homem é ontologicamente livre, é livre em seu ser). Há um famoso jargão existencialista (movimento filosófico que tinha em Sartre um de seus mais importantes filósofos), que diz que, no homem, “a existência precede a essência”. Bem resumidamente falando, isso significa que, para um existencialista, o homem primeiro nasce, passa a existir no mundo, e só depois, no decorrer de sua vida, ele constrói algo que possa ser chamado de sua “essência” – aquilo pelo qual identificamos cada pessoa em particular. Essa “essência” se forma, basicamente, pelas escolhas que cada um de nós faz ao longo de nossas vidas (valores, profissão, a forma de se relacionar com os outros, opiniões, gostos, crenças, etc.).
Ainda na peça Entre quatro paredes, Sartre afirma que, afinal, um homem “nada mais é do que a soma das escolhas que fez durante sua vida”. É nesse movimento que nossa existência pode ganhar um sentido que, a priori (antes) ela não tem.
Se o homem é fundamentalmente livre, mesmo alguém mantido sob a mais cruel dominação, no fundo permanece livre em seu ser, em sua consciência. Quer dizer, um homem jamais conseguirá dominar plenamente o outro, penetrar plenamente em sua consciência: sempre haverá lá uma resistência, um resquício de liberdade. Em outros termos, um homem nunca pode ser reduzido completamente à condição de um objeto; a isso sempre haverá uma espécie de oposição por parte de nossa consciência, vinda de nossa liberdade radical.
Nesse sentido, as relações humanas são, a princípio, conflituosas: quando encontro o outro, há um confronto entre minha liberdade e a dele. Porém, e isso é importante, esse conflito não é tudo. Eu preciso do outro, por exemplo, para me conhecer plenamente, para escapar ao que Sartre chama de má-fé, essa espécie de mentira que contamos a nós mesmos para fugir da angústia, que se origina da responsabilidade que temos por nossas escolhas (por exemplo: fui mal numa prova hoje. Ontem, porém, ao invés de estudar, resolvi ficar vendo TV. Para Sartre, é preciso que ajamos autenticamente diante dessa situação, é preciso que eu assuma a responsabilidade de que fui mal porque não quis estudar, porque preferi ficar vendo TV. No entanto, frequentemente agimos de “má-fé”, e tentamos nos enganar, por exemplo, dizendo que fomos mal na prova porque ela estava muito difícil, ou porque o professor é ruim, etc., eliminando o peso da responsabilidade por nossas escolhas). O olhar alheio (do outro) é responsável por nos ajudar a escapar da tentação da má-fé, ele é responsável por nos dizer quem somos, e não quem pensamos ser – o que é fundamental se quisermos melhorar, crescer, evoluir em todos os aspectos. Isso para não falar do necessário processo de socialização, sem o qual não conseguiríamos sobreviver.
Assim, na perspectiva sartriana, não há relação humana que não carregue em si mesma um germe de tensão. “O inferno são os outros”, para Sartre, significa justamente isso: porque o outro também é livre, não podemos controlar completamente o que ele pensa, o que ele nos diz, o limite que ele impõe à nossa liberdade (o que frequentemente gera conflito); mas, ao mesmo tempo (daí vem a tensão), preciso dele, de seu olhar (ainda que, muitas vezes, esse olhar veja algo em nós que não gostamos), para me conhecer e poder agir no mundo, pois apenas por nossas ações (sobretudo as que interferem positivamente na vida dos outros), e no nosso contato intersubjetivo autêntico (que ocorre quando encaro o outro como um ser igualmente livre, e não como um simples objeto), que podemos superar nossa situação e dar um sentido legítimo à nossa existência.
A perspectiva filosófica de Sartre sobre as relações com os outros traz alguns elementos importantes para pensarmos. No fundo, o que a teoria sartriana coloca é que, se o homem é livre, toda relação humana baseia-se numa escolha de cunho moral, quer dizer, na forma como escolhemos ver e nos relacionar com o outro. Ao fim e ao cabo, segundo Sartre, a última palavra compete a cada indivíduo. Mas, com base no que foi exposto, você poderia questionar: numa sociedade altamente individualista como a nossa, na qual a maioria das pessoas é vista como uma simples mercadoria, ou como número para estatísticas, como relacionar nossa liberdade com o respeito e a afirmação da liberdade do outro? Parece que um dos desafios contemporâneos é justamente tentar desatar esse nó.

Reflita e Responda:
1.       Explique a afirmação: “O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”. O que na frase se refere ao determinismo e o que se refere à liberdade?
2.       O que significa dizer “O homem tem a liberdade de fazer-se”?
3.       No caso do ser humano, “a existência precede a essência”. Conforme o texto, o que isso quer dizer?
4.       Explique a relação entre “angústia” e a “condenação à liberdade” pensada por Sartre.
5.        Como entender a ideia de Sartre de que “o inferno são os outros”, mas que ao mesmo tempo, precisamos do outro. Explique.

Para quem se interessar:
SARTRE, Jean-Paul. Entre quatro paredes, ed. Civilização Brasileira.
_________________. O ser e o nada, ed. Vozes (Terceira Parte, sobretudo); 

Referência Bibliográfica:
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
FILHO, Clóvis de Barros; POMPEU, Júlio. A Filosofia Explica as Grandes Questões da Humanidade. Editora Leya. Rio de Janeiro. 2013.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010.
Imagem borboletas: https://amigosdepelotas.com.br/2019/12/09/a-atracao-pela-liberdade/ acessado em 10/05/2020 às 20h06
Imagem responsabilidade: https://flammo.com.br/aprendizados/assumindo-a-responsabilidade/ acessado em 10/05/2020 às 20h11
Imagem Sartre: https://br.pinterest.com/pin/415808978095727006/ acessado em 10/05/2020 às 20h03min



Todos os homens são “filósofos”

Introdução
O objetivo desta leitura é que compreendam, na perspectiva do filósofo italiano Antônio Gramsci, (1891-1937), em que sentido se pode afirmar que todos os homens são “filósofos”. Trata-se de mostrar que, de certo modo, a Filosofia está presente em nosso cotidiano (na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião, enfim, em todo o nosso sistema de crenças e opiniões), influenciando nosso modo de agir e pensar, mesmo que não tenhamos consciência disso. Com esse texto, você pode, também, explorar os conceitos de “senso comum” e “bom senso”, cuja compreensão será importante para a percepção do papel da Filosofia como meio de superação do senso comum.

Todos os homens são “filósofos”
Antonio Gramsci, um filósofo italiano do século passado, já alertava para a necessidade de se combater o preconceito muito difundido de que a Filosofia é uma atividade intelectual muito difícil e, por isso, restrita a uma minoria de inteligência supostamente privilegiada. Isso porque, para ele, em um certo sentido, “todos os homens são ‘filósofos’”, pois, de algum modo, todas as pessoas, sem distinção, independentemente de seu grau de escolaridade, lidam, convivem, trabalham com a Filosofia e a utilizam no seu dia a dia, mesmo que não se apercebam disso. Afinal, a Filosofia está presente “na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião”, enfim, “em todo sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e agir” que caracteriza o que somos.

A linguagem
A Filosofia está presente na linguagem porque esta não é pura e simplesmente um amontoado de “palavras gramaticalmente vazias de conteúdo”. Ao contrário, ela é um “conjunto de noções e conceitos determinados”, muitos dos quais derivados da Filosofia. Portanto, a Filosofia está presente na linguagem que utilizamos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Daí por que, para Gramsci: “Linguagem significa também cultura e Filosofia.

O senso comum
O senso comum é o conjunto de valores, crenças, opiniões, preferências, que constitui a nossa visão de mundo e que orienta nossas ações e escolhas cotidianas. Em geral é assimilado acriticamente, sem qualquer questionamento. A exemplo do que acontece com a linguagem, muitos desses valores e crenças têm origem na Filosofia, mas nós os assimilamos espontaneamente, sem nos darmos conta de sua origem. Simplesmente pensamos e vivemos de uma determinada maneira, acreditamos em certo grupo de valores, defendemos alguma posição política, ideológica ou religiosa, e assim por diante, sem, no entanto, nos preocuparmos em fundamentar nossas opiniões. Ao contrário, contentamo-nos com argumentos superficiais, muitas vezes até inconsistentes ou contraditórios.

O bom senso
O “bom senso”, por sua vez, “coincide com a Filosofia”. Enquanto o senso comum é acrítico, espontâneo, irrefletido, o bom senso implica refletir, tomar consciência de que os acontecimentos possuem uma dimensão racional e que, portanto, devem ser compreendidos e enfrentados também de forma racional, a fim de se obter uma orientação consciente para a ação, evitando se deixar levar por “impulsos instintivos e violentos”. Esse “bom senso” é o que Gramsci chamou de “núcleo sadio do senso comum”. Ou seja, mesmo no nível do senso comum é possível refletir, pensar de maneira crítica sobre a realidade, tomar consciência dela e agir de modo coerente com essa consciência. E isso, de certo modo, já é “filosofar”, pelo menos um filosofar ao nível do senso comum. De fato, não é raro vermos pessoas simples, às vezes com pouca ou nenhuma escolaridade, que revelam um entendimento aguçado e bem elaborado da realidade em que vivem.

A religião
Finalmente, a Filosofia está presente na religião porque também na experiência religiosa nos deparamos com questões e conceitos (Deus, alma, morte etc.) que foram e continuam sendo objeto da reflexão e da elaboração dos filósofos.
Portanto, se a Filosofia está contida na linguagem, no senso comum, no bom senso e na religião, podemos dizer então que ela está presente em todas as dimensões da vida humana, sendo, portanto, familiar a todas as pessoas. Afinal, toda atividade humana, mesmo aquelas que são predominantemente práticas (as diversas formas de trabalho manual, por exemplo), é sempre acompanhada de um pensar, de um saber, em suma, de um trabalho intelectual, racional, reflexivo. É nesse sentido que podemos afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’”.

Filósofos e “filósofos”
Se “todos os homens são ‘filósofos’”, como quer Gramsci, qual é, então, a diferença entre o filosofar de uma pessoa comum e o de um filósofo profissional ou especialista? O próprio autor esclarece: “O filósofo profissional ou técnico não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução etc. Ele tem, no campo do pensamento, a mesma função que nos diversos campos científicos têm os especialistas”. Em outras palavras, podemos dizer que o filósofo especialista: pensa, reflete, raciocina observando mais cuidadosamente as regras da lógica e os procedimentos metodológicos que utiliza; conhece a história do pensamento, isto é, a história da Filosofia; é capaz de analisar os problemas de seu tempo à luz da contribuição dos filósofos do passado que já se debruçaram sobre eles.
Mas se existe essa diferença entre o filósofo especialista e o não especialista, por que então afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’”? Justamente para combater e destruir aquele preconceito de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e restrita a uma minoria. É importante perceber que a propagação desse preconceito cumpre uma função política conservadora, na medida em que afasta a Filosofia do contato com as massas, com o povo, com as pessoas mais simples. Dessa forma, impedidas de se apropriar dos conceitos e das teorias elaboradas pelos filósofos, as pessoas ficam desprovidas dessas ferramentas intelectuais que lhes permitiriam superar mais facilmente o senso comum e adquirir um conhecimento mais crítico e elaborado da realidade em que vivem.
Além disso, cabe afirmar que todos os homens são “filósofos” para deixar claro que todas as pessoas são potencialmente capazes de avançar de um “filosofar” espontâneo, assistemático, restrito ao bom senso, para um filosofar mais elaborado e rigoroso, semelhante ao praticado pelos filósofos especialistas.

Atividade para reflexão:

 1-Qual é solução encontrada pelo pensador Antonio Gramsci, para superar a visão  preconceituosa existente sobre a filosofia e o ato de filosofar?
    2- Por que  Gramsci afirma que: “todos os homens são “filósofos”?
    3- Diferencie o filósofo especialista do filósofo não especialista.
    4- Diferencie Senso comum de bom senso.
    5- Em quais áreas podemos encontrar a presença da filosofia em nosso cotidiano. Justifique sua resposta.

Referências bibliográficas:
GRAMSCI, A. Caderno 11 (1932-1933). Introdução ao estudo da Filosofia. In: Cadernos do cárcere. Vol.1. Edição Carlos Nelson Coutinho com Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 410.
MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR FILOSOFIA ENSINO MÉDIO 3ª SÉRIE VOLUME 1. Texto Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.


quarta-feira, 6 de maio de 2020


SÓCRATES

Contexto histórico:
Sócrates (470 a 399 a.C) nasceu numa época em que Atenas se tornava uma potência política, econômica e militar, a cidade Estado hegemônica da Grécia. Nasceu no chamado “século de Péricles”, que passou a governar Atenas quando Sócrates tinha vinte anos de idade. O século que viu nascer foi o chamado “século de ouro”, “época das luzes”, o “milagre grego”, sem similar na história do mundo ocidental. A democracia já era uma realidade desde que Clístenes introduzira suas reformas. Atenas era uma cidade florescente.
Mesmo tendo sido muitas vezes incluído entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e opunha-se a eles de forma crítica. Opunha-se, igualmente, aos poderosos de seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper a juventude. Por isso, foi condenado e morto.
O pensamento de Sócrates que predominantemente chegou até nos foi transmitido por Platão.

Quem foi Sócrates:
            Sócrates foi filho de Sofronisco, um escultor e Fenareta, uma parteira. Nasceu em Atenas, onde passou toda sua vida. Certo dia, um amigo seu, Querofonte testemunhou a afirmação, proveniente (que veio de alguém ou algum lugar) do oráculo de Delfos, de que Sócrates era “o mais sábio dos homens”. Inicialmente intrigado, Sócrates procura o sentido de tal afirmação. Sendo um homem sem nenhum conhecimento especializado, deduz que sua sabedoria só poderia ser resultado da percepção que tinha da própria ignorância e, seguindo a indicação do deus Apolo, passa a questionar todo aquele que se considerasse dotado de sabedoria.

A verdade e a felicidade em Sócrates:
            Para Sócrates a procura pela verdade implicava em conseguir uma convivência honesta e digna entre os homens. Para ele conhecer a verdade teria como consequência inevitável agir bem, quanto aos maus atos, só seriam cometidos por ignorância. O bem e a verdade estariam intimamente ligados, seriam inseparáveis, conhecer seria igual a conhecer o bem. Agir conforme o bem seria decorrência do conhecimento. Pelo mesmo raciocínio, uma ação danosa a si ou a outros seria decorrência do desconhecimento.
            De acordo com o pensamento de Sócrates, a finalidade da vida é a felicidade, que estaria na capacidade do ser humano em estabelecer para si mesmo, por meio do saber, suas próprias leis e regras de condutas (de como agir).

O método socrático, dialético ou maiêutico:
            A filosofia de Sócrates era desenvolvida mediante o diálogo crítico ou dialética, com seus interlocutores, o qual poderia ser dividido em:
- Refutação ou ironia: Etapa em que o filósofo interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber, formulando -lhes perguntas e procurando evidenciar suas contradições. Seus objetivos era fazê-los tomar consciência profunda de suas próprias re spostas, das consequências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.
- Maiêutica:  Etapa em que ele propunha aos discípulos uma nova série de questões, com o objetivo de ajudá-los a conceber ou reconstruir suas próprias ideias. Por isso, essa fase é chamada de maiêutica, termo que em grego significa: “arte de trazes a luz”.
            Sócrates transmitia seu ensinamento a qualquer homem, tivesse ele um interesse especial pelo debate filosófico ou não. Ele aplicava o método “parto das ideias” num sentido amplo, que não se restringia a sua doutrina especifica.
            A popularidade de Sócrates em Atenas era decorrente de sua atitude em relação à filosofia: Sócrates percorria a cidade com frequência dialogando com os jovens e adultos nos espaços públicos. Essa atividade, aliás, era condizente com a cultura ateniense da época, afinal a democracia se fundamentava justamente nos debates públicos.

A morte de Sócrates:
            A popularidade de Sócrates o levou a uma consequência funesta (danosa, mortal). Alguns cidadãos de Atenas, enfurecidos pela ironia que Sócrates não tinha medo de usar, acusaram-no oficialmente de impiedoso (por desrespeitar os deuses, a religião) e de induzir os jovens a se comportar de maneira imprópria. Como resultado em 399 a.C. Sócrates foi levado a julgamento. Diante dos juízes, rebateu os argumentos de seus acusadores e, apesar de se declarar inocente, foi condenado à morte por envenenamento. Foi então, concedida a chance de escapar da pena se renegasse suas ideias diante do tribunal, ao mesmo tempo em que alguns amigos arquitetaram um plano para que ele fugisse de Atenas. Entretanto, Sócrates não aceitou nenhuma das alternativas, ambas desonrosas do seu ponto de vista e foi morto por meio da ingestão de cicuta, um veneno letal extraído de uma planta de mesmo nome.

Questões para reflexão:

1-) Explique com suas palavras o que é a Ironia e Maiêutica, procedimentos utilizados por Sócrates para chegar ao conhecimento verdadeiro.

2-) Por que, para Sócrates, agir bem ou fazer o bem, estava ligado ao conhecimento?

3-) “Só sei que nada sei”, frase atribuída a Sócrates, é aparentemente contraditória. Qual a importância desse princípio nas ideias defendidas pelo filósofo?

4-) O que Sócrates fez para ser considerado um elemento perturbador da democracia ateniense?

5-) Por que é possível dizer que a condenação de Sócrates teve um motivo político?

Referência
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002. (p.46-49)
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.222)
MEIER. Celito. Filosofia: por uma experiência da complexidade. Volume único. 2ª Ed. Belo Horizonte: MG; Pax Editora e Distribuidora, 2014 (p.101)