domingo, 3 de maio de 2020


Os sofistas.

Contexto histórico:
No século V a.C., Atenas vivia o auge de um regime de governo no qual os homens livres decidiam os interesses comuns a todos os cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam em discussões públicas como a cidade deveria ser administrada. Era considerado cidadão os homens livres com alguma propriedade e que não fosse estrangeiro. Esse regime de governo era a democracia ateniense que, embora não garantisse os mesmos direitos para todas as pessoas, representou uma importante mudança no modo de ver o mundo, pois tinha como fundamento a ideia de que o homem tem a soberania sobre o seu destino.
As propostas que os cidadãos atenienses defendiam publicamente eram feitas por meio de discursos proferidos na ágora (praça pública). Para obter a aprovação da maioria, esses argumentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos, capazes de convencer os demais. Falar bem e de modo convincente era considerado, portanto, um dom muito valioso.
Por isso, havia cidadãos que procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar, a fim de melhor convencer os outros. A necessidade de se expressar bem, juntamente com a importância que foi dada ao indivíduo, naquele período concebido como o senhor do seu destino, favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos, chamados sofistas (palavra de origem grega que quer dizer “grande mestre ou sábio”, algo como “superssábios”), que dominavam a arte da oratória, isto é, o uso habilidoso da palavra.

Quem eram os sofistas:
Os sofistas eram filósofos originários de diferentes cidades e viajavam pelas pólis (cidades-Estado) go vernadas da mesma forma democrática, especialmente Atenas, onde discursavam em público e ensinavam sua arte em troca de pagamento.
Os sofistas, entretanto, não foram somente professores, mas também estabeleceram uma corrente de pensamento própria. Sua preocupação filosófica se voltava para o homem e a vida em sociedade; as questões que ocupavam os pré-socráticos, dirigidas para a natureza e a essência do universo, foram colocadas em segundo plano.
Alguns pensadores sofistas foram Górgias de Leontini (483-373 a.C.), Hípias (século V a.C.) e Protágoras de Abdera (485-410 a.C.), a quem se atribuiu uma famosa frase: “O homem é a medida de todas as coisas”. Para os sofistas, tudo deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e de acordo com a forma como vê a realidade social.
Essas características dos ensinamentos dos sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre as coisas. Para o relativismo não há uma verdade única, absoluta. Assim, a “verdade”, seria algo relativo ao indivíduo, ao momento histórico, às circunstancias, podendo mudar frequentemente, conforme o interesse.

Sofistas: heróis ou vilões?
É importante compreender que o termo sofista teve originalmente um significado positivo. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de “enganador” ou “impostor”. Desde então, considerou-se a sofística uma arte de manipular raciocínios, produzir o falso, iludir os ouvintes, sem nenhum amor pela verdade. Os sofistas pareciam não buscar a Aletheia (a verdade); contentavam-se com pseudos (o falso).
Por isso hoje se utiliza a palavra sofisma para designar um raciocínio aparentemente correto, mas que na realidade é falso, geralmente formulado com o objetivo de enganar alguém.
Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo o conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores seriam subjetivos (pessoais) assim como impediam o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantisse os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Foi nesse contexto que surgiu um pensador cuja doutrina se opunha profundamente à sofística: Sócrates.

Para entender melhor:

PARA REFLETIR E RESPONDER...
1.     Caracterize os sofistas e o que favoreceu seu surgimento.
2.     Em contraste com o período pré-socrático, marcado por reflexões cosmológicas, qual foi a grande preocupação do período clássico que se inicia com os sofistas?
3.     Se todos os cidadãos buscassem somente os seus interesses individuais, conforme recomendava a sofística, o que aconteceria na pólis em termos de sua organização?
4.     O que significaria a vida pública para um homem que estivesse apenas interessado em seu próprio proveito?
5.     Ao longo da história os sofistas foram considerados heróis ou vilões? Justifique.
6.     Quem, hoje, poderia ser chamado de sofista? Dê sua opinião e cite exemplos.

Referência:

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Imagem 2 Protágoras: https://www.todamateria.com.br/protagoras/ acessado em 28/04/2020 às 19h55


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