sexta-feira, 19 de junho de 2020

ARISTÓTELES: BASES DO PENSAMENTO LÓGICO CIENTÍFICO


ARISTÓTELES
Bases do pensamento lógico e científico

Biografia
            Continuando nossa viagem pela História da Filosofia, vamos agora conhecer um pouco sobre outro
importante pensador. Nascido em Estagira (por isso era chamado de “O Estagirita”), na Macedônia, Aristóteles (384-322 a.C.) foi, ao lado de Platão, um dos mais expressivos filósofos gregos da Antiguidade. Há informações de que teria escrito mais de uma centena de obras sobre os mais variados temas, das quais restam apenas 47. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe uma contribuição que impactou a história do pensamento ocidental.
            Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, provavelmente herdou do pai o interesse pelas ciências naturais. Aos 18 anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de 20 anos. Com a morte de Platão em 347 a.C., não pode assumir a direção da Academia por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.
            Decepcionado, deixou a Academia e partiu para a Ásia Menor, onde foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho, Alexandre, que posteriormente foi um importante governante do império macedônico a partir de 340 a.C.
            Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundado sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu, onde ensinou por aproximadamente 12 anos. Seus discípulos ficaram conhecidos como peripatéticos, pois o filósofo tinha o hábito de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores. (peripatético significa ambulante, itinerante, que anda)
      
      Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio correto.

Método indutivo
            Para Aristóteles a ciência deveria partir da realidade sensorial para desvendar a constituição essencial dos seres. Isto é, da experiência concreta (empírica). Em outras palavras, a partir da existência do ser individual, devemos atingir sua essência, seguindo um processo de conhecimento que caminharia do individual e específico para o universal genérico, isso é o método indutivo. O conceito escola, por exemplo, é o resultado da observação das diferentes instituições às quais se atribuiu o nome escola. Somente dessa maneira o conceito escola pode ter sentido universal. É por meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, conceituais, de âmbito universal.


Matéria e forma
            Aristóteles era um grande observador da natureza, considerado por muito o primeiro biólogo que existiu. Para ele, as coisas são o que são em sua própria natureza, ou seja, o ser verdadeiro deve ser imanente. Todas as coisas estariam constituídas de dois princípios inseparáveis:
- Matéria (hylé, em grego) – o princípio indeterminado dos seres, mas que é determinável pela forma. Exemplo: madeira;
- Forma (morphé, em grego) – o princípio determinado em si próprio, mas que é determinante em relação à matéria. Exemplo: cadeira de madeira.
Assim, tudo o que existe é composto de matéria e forma, daí o nome hilemorfismo (matéria + forma) para designar essa doutrina. Note que é a forma que faz as coisas serem o que são. Por exemplo, uma cadeira de madeira só é reconhecida como cadeira por causa da sua forma, se não fosse a forma seria apenas alguns pedaços de madeira (matéria). Outro exemplo: um anel de ouro é derretido para converter-se em uma corrente de ouro, muda-se a forma (de anel para corrente), mas mantém-se a matéria (ouro).
Quatro causa dos seres
            Observe que, quando falamos de uma semente que se transforma em árvore e em um anel que se converte em corrente, estamos nos referindo a duas classes distintas de seres. No primeiro caso, temos um ser natural, no qual a mudança (ou movimento) ocorre por um princípio interno, intrínseco, conforme explicou Aristóteles. No segundo caso, por sua vez, temos um ser artificial, cuja transformação (ou movimento) se dá por um princípio externo, extrínseco.
            Em outras palavras, os seres naturais modificam-se, basicamente, de acordo com sua própria natureza, enquanto os seres artificiais dependem em boa medida de elementos externos para que isso ocorra.
            Há, portanto, princípios intrínsecos e extrínsecos que levam os seres ao movimento, à passagem da potência (aquilo que o ser ainda não é e o que pode vir a ser, exemplo: semente) para o ato (aquilo que o ser já é, exemplo: árvore). Esses princípios são o que o filósofo chamou de causas.
            Aristóteles distinguiu quatro tipos de causas fundamentais:
- Causa material: refere-se à matéria de que é feita uma coisa. Exemplo: a madeira utilizada na confecção de uma cadeira.
- Causa formal: refere-se à forma, à natureza específica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”. Exemplo: Exemplo: a forma de uma cadeira, que é diferente de uma mesa.
- Causa eficiente: refere-se ao agente, àquele que produz diretamente a coisa, transformando a matéria tendo em vista uma forma. Exemplo: o marceneiro que faz a cadeira.
- Causa final: refere-se ao objetivo, à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa. Exemplo: a cadeira serve para as pessoas se sentar.
            Nos seres artificiais (como a cadeira do nosso exemplo), todas essas causas intervêm, sendo as duas últimas extrínsecas a esses seres.
            Nos seres naturais, a causa eficiente não ocorre, pois eles podem surgir e ser o que são por natureza, isto é, fazem-se por si mesmos, não dependendo de uma causa externa.
Assim, as diferentes relações entre as quatro causas explicam tudo o que existe, o modo como existe e se altera, e o fim ou motivo para o qual existe.
Aristóteles, como vimos tem uma vasta contribuição para o saber. Escreveu, dentre outros temas, sobre ética, política e lógica, mas esses são assuntos que trataremos em outras aulas.

Vamos refletir:

1-    Como ficou conhecida a escola fundada por Aristóteles e por que seus discípulos eram chamados de peripatéticos?
2-    Explique o que é o método indutivo, utilizado por Aristóteles.
3-    Dê um exemplo diferente do que aparece no texto para explicar o hilemorfismo, princípio da matéria e forma.
4-    Explique como ocorrem as mudanças nos seres naturais e nos seres artificiais.
5-    Utilize o exemplo de um “lápis” para explicar as quatro causas dos seres, conforme Aristóteles.


Referência Bibliográfica:
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002. (p.60-63)
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.227-230)

quinta-feira, 18 de junho de 2020

PLATÃO E A JUSTA DESIGUALDADE


PLATÃO E A JUSTA DESIGUALDADE
Introdução
Vamos introduzir uma discussão sobre a política com base nas possibilidades e na qualidade da participação política. Além disso, propomos uma reflexão sobre a democracia pautando-se pela perspectiva antidemocrática de Platão (428-348 a.C). Nesse sentido, deveremos atentar para como Platão explica a desigualdade de classes na sociedade ateniense em seu tempo, valendo-nos, para tanto, da obra A República. Abordaremos, basicamente, a concepção platônica de justiça e a teoria da alma, elementos importantes para a compreensão da visão platônica sobre o tema.
Para início de conversa, propomos uma questão: Quais são os pontos fortes e quais são as fragilidades que conseguimos observar no cotidiano em relação à democracia brasileira?
A democracia é um regime que permite e requer diversidade de opiniões, a criação de organizações, associações, movimentos e partidos e por isso é na democracia que os conflitos e disputas são uma constante e possibilitam a manutenção e a ampliação de direitos. Ou seja, quanto mais vozes tiverem o direito de ser ouvidas, mais conflitos e disputas se farão presentes na sociedade democrática e é por isso que a democracia tem o potencial de se abrir para revisões e transformações da realidade. A democracia caracteriza-se pela pluralidade de vozes e, portanto, o pior que pode acontecer com a democracia é a violência que promove o medo e tende a provocar o silêncio.

A justiça na República Platônica
            Justiça, apesar do seu uso corrente, é um conceito de difícil demarcação. Os dicionários referem-se à justiça, entre outras possibilidades, como distribuição que permite a cada um ter o que é seu e/ou que tal distribuição seja feita de forma imparcial. Essas possibilidades de entender a justiça parece ter relação com o que entendemos, de forma geral, por justiça. Nesse contexto, como a cidade poderia funcionar de maneira mais justa?

Platão e a teoria da alma
A noção que Platão tem de justiça é reforçada pela sua teoria da alma. Para ele,
assim como na cidade há três classes distintas, também a alma humana possui três partes, cada uma encarregada de uma função específica:
1. Parte concupiscente ou apetitiva: situada no baixo-ventre (entre o diafragma e o umbigo), é a parte da alma responsável pela busca da bebida, da comida, do sexo, dos prazeres, enfim, de tudo quanto é necessário à conservação do corpo e à reprodução da espécie. É irracional e mortal.
2. Parte colérica ou irascível: irascível é quem se irrita ou se enraivece com facilidade. Localizada no peito, acima do diafragma, sua função é defender o corpo contra tudo o que possa ameaçar sua segurança. Também é irracional e mortal.
3. Parte racional: é a função superior da alma, o traço divino que há em nós. Situada na cabeça, é responsável pelo conhecimento. Apenas essa parte é imortal.
O homem virtuoso é aquele em que cada parte da alma realiza na medida justa (sem falta nem excesso) a função que lhe cabe, sob a regência da parte racional. Cabe, portanto, à parte racional dominar as outras duas. O domínio da razão sobre a concupiscência resulta na virtude da temperança (moderação); o domínio da razão sobre a cólera produz a virtude da coragem ou da prudência. A virtude própria da parte racional é o conhecimento.
Por outro lado, o homem vicioso é aquele em que as partes da alma não conseguem realizar suas funções próprias, ou as realizam desmesuradamente (sem medida), o que ocorre quando a parte racional perde o comando sobre as outras duas. Nesse caso, instaura-se a desordem, o conflito, a violência contra si e os demais.
Ora, o que vale para o homem individualmente vale também, de certo modo, para a cidade e as três classes sociais nela existentes:
1-Na classe econômica, predomina a parte concupiscente da alma. Daí ela estar sempre voltada para a obtenção de riquezas e prazeres. Assim, se essa classe assumir o governo, a cidade será mergulhada em sérios problemas econômicos, aprofundando as desigualdades.
2-Na classe dos guerreiros, predomina a parte colérica, razão pela qual apreciam os combates e a fama. Se governarem, a cidade viverá em constante estado de guerra, tanto interna quanto externamente, gerando insegurança e instabilidade.
3-Na classe dos magistrados, predomina a parte racional da alma, o que lhe favorece conhecer a ciência da política e, desse modo, governar as outras duas classes e em conformidade com a justiça.
Em suma, assim como o homem justo é aquele em que a razão governa a cólera e a concupiscência, também na cidade, para haver justiça, é preciso que os magistrados governem as demais classes, dedicando-se estas às funções que lhes são próprias.
Caberá à educação preparar os indivíduos de cada classe para o exercício da função e da virtude a ela correspondentes. Assim, a classe econômica deve ser educada para a frugalidade e a temperança; a classe militar, para a coragem; e a classe dos magistrados, para a prudência. O resultado dessa combinação será uma quarta e principal virtude: a justiça.
Assim, a cidade justa é aquela em que cada classe cumpre harmoniosamente o papel que lhe cabe: o magistrado governa, o soldado defende e a classe econômica provê a subsistência dos cidadãos, tudo na mais perfeita harmonia. Desse modo, cada um exercendo a função correspondente às inclinações de sua alma, às características de sua natureza, todos concorrerão para a realização da justiça. Eis, portanto, como Platão legitima e justifica a desigualdade entre as classes, apresentado-a como expressão da justiça e instrumento para a realização do bem comum.
Conclusão
É importante realçar que a visão de Platão sobre as classes sociais conduz a certa naturalização da desigualdade e, nesse sentido, diferenças justificam as desigualdades. A posição  platônica, dessa forma, não considera a convenção (como possivelmente pensavam os sofistas, adversários políticos de Platão), isto é, deixa de ser considerada como obra humana, e passa a ser entendida como expressão da natureza intrínseca ao homem, como fruto de uma espécie de disposição inata das pessoas para exercer determinado papel na sociedade, disposição que se justifica por uma ideia de bem e justiça.
Resumo
Platão entende que, assim como no corpo, naturalmente, há partes desiguais, a desigualdade entre as classes sociais também é natural. Ele observa que as pessoas nascem diferentes, com habilidades e tendências diferentes, e isso não é um problema. Alguns nascem para o trabalho braçal, outros para defender e outros para governar. Se cada um fizer bem a sua função, toda a cidade será justa. Por isso, o título deste texto... “Platão e a justa desigualdade”. Portanto, a visão de Platão é antidemocrática, pois ele considera que nem todos nascem com sabedoria para governar. O filósofo defende um tipo de governo aristocrático, onde quem governa deve ser o filósofo, o mais sábio (é o Rei-filósofo).  Essa concepção será contrariada, mais adiante, por Rousseau, para quem a desigualdade não é natural, mas resulta de uma convenção, ou seja, é produzida pelos seres humanos. É o que veremos na próxima aula...

Vamos refletir:
(Responda em seu caderno de Filosofia)
1-Descreva, conforme o texto, o que caracteriza uma democracia.
2-Quais são as três partes da alma, pensadas por Platão, e qual á e a característica de cada uma?
3-Como é o homem virtuoso e o homem vicioso, conforme Platão?
4-Quais são as três classes da cidade e qual a caraterística de cada uma?
5-Para Platão, a desigualdade social é natural ou produzida? Justifique sua resposta.

Referência Bibliográfica

São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; filosofia, ensino médio, 3a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Adilton Luís Martins, Luiza Chirstov, Paulo Miceli, Renê José Trentin Silveira.  -  São Paulo: SE, 2014.

Imagem1: Imagem 1: Disponível em: https://beduka.com/blog/materias/filosofia/principais-ideias-platao/ acessado em 25/05/2020 às 19h25


O contrato social em John Locke


O indivíduo a partir do pensamento de John Locke (1632-1704)
Juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do
jusnaturalismo ou teoria dos direitos naturais. O modelo jusnaturalista de Locke é, em suas linhas gerais, semelhante ao de Hobbes: ambos partem do estado de natureza que, pela mediação do contrato social, realiza a passagem para o estado civil. Na sua concepção individualista, os homens viviam inicialmente num estado de natureza como uma condição na qual, pela falta de uma normatização (regras, leis) geral, cada um seria juiz de sua própria causa, o que levaria ao surgimento de problemas nas relações entre os indivíduos.
Para evitar esses problemas é que o Estado teria sido criado. Sua função seria a de garantir a segurança dos indivíduos e de seus direitos naturais, como a liberdade, a vida e a propriedade. Locke concebe a sociedade política como um meio de assegurar os direitos naturais. Assim nasce a concepção de Estado Liberal, segundo a qual o Estado deve regular as relações entre os indivíduos e atuar como juiz nos conflitos sociais.

 
O pensamento de Locke...
            Como muitas pessoas veem os “homens das cavernas”? Na maioria dos casos, são apenas imagens estereotipadas (imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação), que os caracterizam como “violentos e brutos, preocupados apenas em satisfazer, imediatamente, seus desejos”. Para Locke, essa imagem era um dado da realidade; por isso, para ele, esses homens vivam em “estado natural” ou “estado de natureza”.
De acordo com sua filosofia, todos os homens nasciam com três direitos: liberdade, propriedade e garantia de vida. Desse modo, no início dos tempos, lutar ou fugir eram maneiras para se defender esses direitos.
No estado de natureza eram livres porque não precisavam pedir permissão ou depender da vontade de outro homem; eram iguais pois, nenhum possuía nada a mais que outro, recebendo todos as mesmas vantagens da Natureza. A garantia de vida vinha por serem iguais e independentes, e por isso, os homens não deveriam prejudicar uns aos outros e poderiam punir quem viesse ameaçar a vida deles.
Para Locke, no estado de natureza os homens vivem em situação de paz. Porém, ele entende que esse estado de paz é ameaçado quando um homem coloca outro sob seu poder e o submete à sua vontade. Rompe-se, assim, o estado de natureza e instala-se o estado de guerra. Para recuperar o estado de paz, é necessário que os homens se unam em um contrato por meio do qual evitem os inconvenientes do estado de guerra.
Por meio desse contrato, reafirmavam-se os direitos naturais. Além disso, os homens concordaram que, para evitar que esses direitos fossem apoderados de forma violenta, deveriam eleger um governo, ao qual caberia defendê-los.
Assim, todos deveriam respeitar a vida, a propriedade e a liberdade, e o governo ou o Estado seria responsável para que isso não deixasse de acontecer, lutando com quem quer que fosse que tentasse desrespeitar essa condição natural.  A partir disso, para Locke, começou a civilização ou a cultura.

A importância do pensamento de Locke
Esse pensamento é importante porque foi sobre ele que o capitalismo encontrou uma das suas bases
teóricas para o seu desenvolvimento. Uma característica fundamental do capitalismo nascente era a propriedade individual e o fim da propriedade coletiva. O indivíduo tornou-se o centro da atividade econômica e jurídica. Ele consome e produz. Portanto, é em vista dele que são feitas as leis que organizam as relações sociais.
Para Locke, o Direito Natural é diferente do Direito Positivo. O Direito Natural seria originário da razão correta – assim como a natureza tem suas leis, o homem também teria, por natureza, as suas. Já o Direito Positivo seria o conjunto de leis que os homens criam para conviver em sociedade.       
Em Locke, a liberdade, a propriedade e a vida formam o Direito Natural de cada indivíduo. No entanto, para mantê-lo, o homem precisa conviver com outros que têm o mesmo Direito Natural; então, para que o convívio seja possível, os homens necessitam produzir leis positivasno sentido de inventadas – para a manutenção desses mesmos direitos naturais. Assim, a partir do Direito Natural de cada um, cria-se o Direito Positivo a que todos têm de obedecer.
Na filosofia de Locke, há a valorização do indivíduo como agente (aquele que faz) histórico e jurídico – o indivíduo faz a história e cria leis – é também responsável pela produção e aquisição do conhecimento, sendo a felicidade o objetivo último da realização individual.
Por isso, toda ação depende necessariamente do indivíduo. O tipo de governo que ele deixa existir, o tipo de relações sociais sob as quais viverá; enfim, sua felicidade ou tristeza não competem mais ao rei ou a senhor feudal, mas somente ao indivíduo.

Vamos refletir:
1-O que é, para Locke, o “estado natural” ou “estado de natureza” e que direitos possuíam os homens nesse estado?
2-Quando, segundo Locke, o estado de paz é ameaçado? Explique.
3-Qual a importância do “Contrato social”?
4-Explique o que é Direito Natural e Direito Positivo.
5-Em resumo, mostre como o homem sai do estado de natureza e entra no estado de cultura ou civilização.

Referência:
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; filosofia, ensino médio, 2a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Adilton Luís Martins, Luiza Chirstov, Paulo Miceli, Renê José Trentin Silveira.  -  São Paulo: SE, 2014.

Imagem1: https://pgl.gal/john-locke-defensor-do-direito-natural/ acessado em 01/06/2020 às 16h40




quarta-feira, 10 de junho de 2020


A LINGUAGEM E A LÍNGUA COMO CARACTERÍSTICAS QUE IDENTIFICAM A ESPÉCIE HUMANA

A língua:
            A língua precisa de um suporte, algo que a sustente para que ela exista e possa comunicar, ou seja, transmitir uma mensagem, esses suportes são: a fala, que tem como base física os sons, a vibração do ar; a escrita, que tem como base a imagem. E necessita de um animal que fale, ou seja, que torne esta língua capaz de existir.
            A língua falada depende do aparelho fonético, a língua escrita depende de mãos e habilidades de escrita. Os seres humanos ainda apresentam a língua de sinais que tem como base os gestos. Tais formas de comunicação, falada, escrita e gestual, todos com significados e tendo como intenção comunicação e interação é exclusividade da nossa espécie, a humana.
            A língua como produto humano, tem sua base na cultura, pois é a maneira como um povo desenvolve sua língua e a as maneiras de se comunicar estão ligadas as suas formas de vida. Temos assim, um processo de interação e complementação entre língua e cultura, uma vez que a língua torna a cultura e sua comunicação possível, mas, por outro lado, a cultura, também torna a formação de uma língua e sua promoção e divulgação possíveis. Portanto, língua e cultura estão profundamente ligadas.
            O exemplo disso está em que ao nomear algo ou alguém, classificar objetos, experiências, entre outras vivências humanas, usamos da língua para realizar estas ações e também usamos da língua para comunicá-las. Ao realizar tal classificação e comunicação, sofremos a interferência da nossa cultura e criamos a cultura de um povo, o que faz com que língua e cultura sejam indissociáveis (inseparáveis).
            Ao fazer parte de um povo, de uma sociedade, eu também conheço e domino sua língua e sua cultura, por isso é possível afirmar que: “A língua é o “saber coletivo” fundamental de um povo, de uma nação, de uma cultura. É fundamental porque, com a língua, os grupos humanos fundam sua identidade, por meio das palavras que organizam e nomeiam suas atividades para sobrevivência, suas crenças, seus valores, suas artes. Isto torna a língua o saber coletivo, mais bem repartido de um povo ou comunidade. Além disso, é um saber em contínua transformação e crescimento. Todos nós aprendemos a língua constantemente e todos nós ensinamos a língua constantemente. A língua de um povo, portanto, é um “instrumento valioso para a sua identidade”.
            Isto posto, observamos que a língua é fundamental para espécie humana, é ela quem permite ao ser humano comunicar os conhecimentos por eles construídos, possibilitando a transmissão da história, das orientações necessárias a sobrevivência e da cultura construída e que está em constante transformação, o que faz com que língua e cultura dependam uma da outra e estejam sempre ligadas.

A linguagem:
            A linguagem é um instrumento que nos permite pensar e comunicar o pensamento, estabelecer diálogos como nossos semelhantes e dar sentido a realidade que nos cerca.
            Quando nos referimos à linguagem, a primeira da qual nos lembramos é a linguagem verbal, tanto a oral como a escrita. Por meio dela, nomeamos objetos, formamos conceitos e articulamos nosso pensamento sobre o mundo, tanto o mundo subjetivo, nossos sentimentos, pensamentos, como o mundo exterior, aquilo que está fora ou que acontece fora de nós.
            Porém, existem outras formas de linguagem que usamos para nos comunicar.
            Vejamos então, como as linguagens são estruturadas e como elas podem se apresentar.

A estrutura das linguagens:
            Embora tenhamos diversas formas de linguagem, existe um sentido básico na linguagem, isto é, que
está presente em todas elas.
A linguagem é um conjunto de signos, ou seja, sinais que podem ser visuais, sonoros, táteis, etc. Este conjunto de sinais, tem como intenção, indicar algo, com isso, os signos quando reunidos transmitem um significado, ou seja, emitem, uma mensagem, para aquele que domina os códigos (signos) emitidos. O que faz com que, a língua falada, seja uma das formas de linguagem utilizadas para comunicação, e o receptor (aquele que recebe a mensagem) só compreende a mensagem se domina também os códigos (signos) que emitidos pelo emissor (aquele que emite a mensagem).


Tipos de linguagem:
            Ao longo da história da humanidade o ser humano desenvolveu diversas forma de linguagem como: a matemática, a eletrônica, artística que pode estar relacionada a esculturas, músicas, danças, pictórica (pinturas), cinematográfica, a moda, gestuais. Cada linguagem tem sua especificidade, isto é, sua particularidade, e seguem regras específicas de sua área. Por exemplo: a linguagem artística respeita as regras especificas do campo artístico, na pintura simetria, uso de forma geométrica, mistura de cores, porém, por ser mais flexível, ela abre a possibilidade de explorar essas regras e criar novos estilos e técnicas.

Linguagem, pensamento e cultura:
            Há então diversos tipos de línguas, linguagem e também de pensamentos. Há o pensamento
concreto, que parte da experiência sensível, ou seja, do que vemos, ouvimos e sentimos, e o pensamento abstrato que estabelece sua relação com coisas que não perceptíveis. O pensamento abstrato é responsável por criar conceito e noções abstratas e precisa da mediação da linguagem racional.
            Por exemplo: quando observamos uma praia com as ondas do mar, o sol escaldante, sentimos a brisa no rosto, essa percepção é concreta, sentimos a brisa, vemos e sentimos o cheiro do mar, ouvimos as ondas, sentimos o calor do sol sobre nossa pele.
            Quando pensamento quanto é 8 x 5 lidamos com a pensamento abstrato, pois não há na natureza, 8 e 5, eles são abstrações do ser humano para quantificar objetos, pessoas entre outros.
            Portanto, cada tipo pensamento irá adotar uma forma de linguagem. Para o pensamento abstrato a língua verbal e simbólica é a linguagem mais adequada para o desenvolvimento dos conceitos, permitindo o desenvolvimento de ideias, abstrações.
            Já o pensamento concreto, identifica-se melhor com a linguagem artística por exemplo, pois um pintor, ao pintar um quadro de um rio busca representar esta realidade em uma tela.
            Além de estruturar o pensamento, a linguagem mantém estreita relação com a cultura. Se por um lado, as várias linguagens fixam e passam adiante os produtos do pensamento sob forma de ciência, técnicas e artes, elas também sofrem a influência das modificações culturais. Nas línguas há modificações semânticas e de repertório a partir das novas artes, a reestruturação da linguagem responde a mudanças de valores, de anseios e de busca no seio da cultura de cada sociedade.

A importância da linguagem
            A linguagem é um produto humano bastante sofisticado que só a razão humana pode criar. Por isso, sua aquisição é um marco referente da humanidade. A linguagem é simbólica, estruturada e adequada à cultura dentro da qual se desenvolve, de maneira apropriada ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo das ideias, da reflexão; permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no mundo das possibilidades. Que exerça, enfim, a atividade produtiva de criar sentidos para o mundo e para sua vida.

O que vimos:
- Que a língua é característica fundamental o ser humano.
- A língua é um saber coletivo, amplamente divulgado entre os membros de um povo.
- Língua e cultura estão fortemente ligadas, ambas interagindo e interferindo na construção e transformações sofridas.
- A linguagem é o instrumento de comunicação e pode apresentar-se de diversas formas: artística, cinematográfica entre outras.
- A linguagem é composta de signos e significados.
- A linguagem está ligada a construção do pensamento humano e a formação da sua cultura.
- A língua, linguagem, pensamento e cultura são exclusividades humanas que permite ao homem ir além, criar sentido para sua vida e transformar sua realidade.


Vamos refletir:
1-    Por que é possível afirmar que a língua é um “saber coletivo” mais bem repartido de um povo?
2-    Quais recurso são necessários para que a língua exista, para que ela possa comunicar?
3-    Quais são os recursos necessários para que linguagem exista?
4-    Que outros tipos de linguagem podem existir, além da escrita?
5-    Quais formas de pensamento podemos apresentar, e quais linguagem cada forma de pensamento usa?
6-    Qual é a importância da linguagem para a vida humana?


Referência:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.  Filosofando: Introdução à filosofia.4º Ed. São Paulo: Moderna, 2009 (p.54-63).

COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.160 a 168)

Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo - Filosofia - Caderno do professor - 3º Série - 2014 - 2017.



Fonte imagem 3: http://www.petadm.ufc.br/?p=5323 acessado em 02/06/2020 às 18h18


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Tem Calma- Pe. Fábio de Mello


Letra da música: Tem calma

Tem calma contigo mesmo e olha aonde vais
Espera um minuto, pensa no que farás
No meio da tormenta é duro navegar
E uma escolha incerta pode caro custar

Nem todo mau momento te faz fracassar
E em caminhos de pedras haverás de passar
Pois nem tudo na vida é como a gente quer

Mesmo sem sombras na terra o sol brilha no céu


Segue adiante, sem olhar atrás
Vive cada dia e nada mais
E o o que vier tu vencerás
Só tu tens a chave: abres ou fecharás

Tem calma na vida o jogo é de verdade
Pra ganhar a partida vai com força e coragem
São as regras do jogo é bom sempre lembrar
Diante dos desafios é preciso tentar

Tu és precioso acredite ou não
Mas o amor tem sua casa nos terrenos da dor
E assim como o ouro pelo fogo irás passar
E o que tens de melhor o fogo vai revelar

Ainda que chores, tu vencerás
Só aquele que perde sabe também ganhar
Segue adiante, sem olhar atrás
Vive cada dia e nada mais
E o que vier tu vencerás
Só tu tens a chave: abres ou fecharás (BIS)

Tem calma... tem calma... tem calma...

Fonte: https://www.letras.mus.br/pe-fabio-de-melo/1366629/ acessado em 25/05/2020 às 16h41

Fonte imagem: https://istoe.com.br/apos-criticas-padre-fabio-de-melo-deixa-o-twitter/ acessado em 08/06/2020 às 9h00


Atividade:
1-) Destaque uma passagem da letra da música que mais chamou sua atenção, ou que de alguma maneira, te ajudou a refletir sobre a sua vida.

segunda-feira, 1 de junho de 2020


Antropologia Filosófica – Uma reflexão sobre o ser humano

 

A condição animal como ponto inicial no processo de compreensão sobre o homem


Introdução
Este estudo tem como objetivo dar início à reflexão sobre os seres humanos, destacando a importância de admitir sua condição de animal dotado de um corpo que o aproxima e o distingue dos demais seres do planeta. Admitir essa aproximação e essa distinção requer esforço típico da reflexão filosófica, indiscutivelmente necessária para a formação ética e para a construção da convivência humana solidária. Afinal, uma das perguntas centrais da Filosofia, colocada de início é exatamente: Quem somos nós, seres humanos? E ainda: Qual é a nossa condição de transformar o mundo em que vivemos em um lugar melhor?
Iniciaremos a reflexão proposta por aquilo que nosso olhar constata de imediato quando mira um ser humano e a si mesmo, ou seja, começaremos pela evidência de que temos um corpo. E esse corpo nos remete, antes de tudo, ao lugar dos animais. As primeiras perguntas em nossa reflexão filosófica são: Que espécie de animal nós somos? O que nos caracteriza? O que nos marca como animais da espécie humana?

O saber sobre o corpo
            Estamos no século XXI. E toda extraordinária evolução das ciências e das explicações racionais e detalhadas dos fenômenos que envolvem nossa existência nos colocam perante desafios como a interpretação do corpo humano e de suas práticas cotidianas. Mas será que sempre foi assim?
            Nas culturas primitivas, o indivíduo não tinha consciência de possuir um corpo que interage num mundo de corpos e objetos. Não havia reflexão sobre a individualidade, e, portanto, a corporeidade objetiva não era percebida em meio a um mundo de corpos e objetivos.

Concepções filosóficas sobre o corpo
            Com o início da atividade reflexiva, o homem toma contato com sua individualidade por meio da introspecção. Sócrates inaugura essa atividade, levando o homem a identificar-se e à sua posição diante dos outros. Quebra a unidade do ser, dividindo-o em corpo perecível e alma imortal.
            Com Platão, corpo e alma assumem posições contrárias, antagônicas: a alma é eterna, pura, sábia, ao passo que o corpo é mortal, impuro, degradante. O corpo é uma verdadeira prisão que impede a ascensão da alma ao plano ideal e perfeito.
            O cristianismo retoma a concepção dualista platônica, fazendo imperar uma visão de corpo corrupto, pecaminoso, um empecilho ao desenvolvimento da alma, uma verdadeira “pedra no meio do caminho”...
            A Idade Moderna, com o advento da ciência experimental, inicia o estudo direto sobre o corpo como objeto de conhecimento, surgem a anatomia e a medicina científicas, que buscam as relações de causa e efeito inerentes ao funcionamento dessa “máquina orgânica”, como se convencionou chamar o corpo. No entanto, o corpo continuou dissociado da alma, jogado no lodo, ao passo que a alma era coroada como portadora da razão, da intelectualidade que tirava o homem da simples condição de animal.
            Para René Descartes, importante filósofo moderno, o homem constitui-se de duas substâncias: uma pensante, a alma, razão e sua existência, ao passo que a segunda substância, o corpo, é simplesmente uma res extensa, uma coisa extensa, que não tem nada em comum com a alma. A consciência e a reflexão filosófica situam-se no plano da alma, nada têm a ver com o corpo.

Os vitalistas
            No século XVIII, aparece uma corrente que se opõe ao mecanicismo – que compara o corpo a uma máquina – são os vitalistas. Diziam que o corpo não é uma máquina insensível, mas um ser dotado e sensibilidade, emoções, afeições. O princípio vital não é imortal, mas um conjunto de “forças que resistem à morte”.
            Por quase dois milênios o corpo foi, então, como que “uma pedra no meio do caminho” da existência do homem, sem que se percebesse que ele era a própria manifestação dessa existência. Mas, pouco a pouco, parece que o corpo foi sendo reabilitado. Lentamente tirado do lodo desprezível em que se encontrava, mas quase nunca chegando à igualdade de posição com a alma.


Concepção atual sobre o corpo
            Hoje parece que temos um homem um pouco mais preocupado com seu corpo, pois o caráter materialista
de nossa civilização ensina que devemos nos preocupar mais com essa vida mundana presente. Mas essa preocupação não é integral: por ter feito um pouco de ginástica pela manhã, o homem acha que seu corpo já está em “forma”, e sobrecarrega-o no restante do dia, alimenta-se mal, abandona o corpo, limitando-se a “rolar a pedra pelo caminho” em direção ao pôr do sol de sua existência.
            Na busca de uma beleza impossível, porque é fabricada pela propaganda, ficamos mais feios e perdemos a saúde. A filosofia procura nos mostrar que outra deve ser a relação que devemos ter com o corpo, e qual sua importância em nossas vidas. O corpo humano é o corpo que sente, percebe, fala, chama a atenção para o corpo que somos e vivemos.



Vamos refletir:
1)    Os seres humanos têm inicialmente uma condição de animal dotado de um corpo que o aproxima e o distingue dos demais seres do planeta. Escreva elementos que nos aproximam e elementos que nos distinguem dos outros animais.
2)    Como as concepções de Sócrates, Platão e cristã entenderam o corpo?
3)    Explique a concepção moderna que considera o corpo como uma “máquina orgânica” e compare com a concepção dos vitalistas.
4)    Como a sociedade atual entende o corpo? Existem padrões tidos como ideais de beleza? Escreva.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 154-157.
Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia: Elementos para o ensino de filosofia/ Sílvio Gallo (coord.); 18ª ed. rev. e atualizada: Campinas, SP: Papirus, 2003. p. 62-67.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 103-109.