Os sofistas.
No século V a.C., Atenas vivia o auge de um regime de
governo no qual os homens livres decidiam os interesses comuns a todos os
cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam em discussões públicas como a
cidade deveria ser administrada. Era considerado cidadão os homens livres com
alguma propriedade e que não fosse estrangeiro. Esse regime de governo era a
democracia ateniense que, embora não garantisse os mesmos direitos para todas
as pessoas, representou uma importante mudança no modo de ver o mundo, pois
tinha como fundamento a ideia de que o homem tem a soberania sobre o seu
destino.
As propostas que os cidadãos atenienses
defendiam publicamente eram feitas por meio de discursos proferidos na ágora (praça pública). Para obter a
aprovação da maioria, esses argumentos deveriam conter argumentos sólidos e
persuasivos, capazes de convencer os demais. Falar bem e de modo convincente
era considerado, portanto, um dom muito valioso.
Por isso, havia cidadãos que procuravam aperfeiçoar
sua habilidade de discursar, a fim de melhor convencer os outros. A necessidade
de se expressar bem, juntamente com a importância que foi dada ao indivíduo,
naquele período concebido como o senhor do seu destino, favoreceu o surgimento
de um grupo de filósofos, chamados sofistas
(palavra de origem grega que quer dizer “grande mestre ou sábio”, algo como
“superssábios”), que dominavam a arte da oratória, isto é, o uso habilidoso da
palavra.
Quem eram os sofistas:
Os sofistas eram filósofos originários de
diferentes cidades e viajavam pelas pólis
(cidades-Estado) go vernadas
da mesma forma democrática, especialmente Atenas, onde discursavam em público e
ensinavam sua arte em troca de pagamento.
Os sofistas,
entretanto, não foram somente professores, mas também estabeleceram uma
corrente de pensamento própria. Sua preocupação filosófica se voltava para o
homem e a vida em sociedade; as questões que ocupavam os pré-socráticos,
dirigidas para a natureza e a essência do universo, foram colocadas em segundo
plano.

Essas características dos ensinamentos dos
sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre as coisas. Para o
relativismo não há uma verdade única, absoluta. Assim, a “verdade”, seria algo
relativo ao indivíduo, ao momento histórico, às circunstancias, podendo mudar
frequentemente, conforme o interesse.
Sofistas: heróis ou
vilões?
É importante compreender que o termo sofista teve originalmente um
significado positivo. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de
“enganador” ou “impostor”. Desde então, considerou-se a sofística uma arte de
manipular raciocínios, produzir o falso, iludir os ouvintes, sem nenhum amor
pela verdade. Os sofistas pareciam não buscar a Aletheia (a verdade); contentavam-se com pseudos (o falso).
Por isso hoje se utiliza a palavra sofisma para designar um raciocínio
aparentemente correto, mas que na realidade é falso, geralmente formulado com o
objetivo de enganar alguém.
Em resumo, a sofística destruía os fundamentos
de todo o conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores seriam
subjetivos (pessoais) assim como impediam o estabelecimento de um conjunto de
normas de comportamento que garantisse os mesmos direitos para todos os
cidadãos da pólis. Foi nesse contexto
que surgiu um pensador cuja doutrina se opunha profundamente à sofística:
Sócrates.
Para entender melhor:
PARA
REFLETIR E RESPONDER...
1.
Caracterize
os sofistas e o que favoreceu seu surgimento.
2.
Em
contraste com o período pré-socrático, marcado por reflexões cosmológicas, qual
foi a grande preocupação do período clássico que se inicia com os sofistas?
3.
Se
todos os cidadãos buscassem somente os seus interesses individuais, conforme
recomendava a sofística, o que aconteceria na pólis em termos de sua organização?
4.
O
que significaria a vida pública para um homem que estivesse apenas interessado
em seu próprio proveito?
5.
Ao
longo da história os sofistas foram considerados heróis ou vilões? Justifique.
6.
Quem,
hoje, poderia ser chamado de sofista? Dê sua opinião e cite exemplos.
Referência:
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo:
Atual, 2002.
COTRIM,
Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos
de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Imagem
1: Péricles: https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_ateniense
acessado em 28/04/2020 às 20h00
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