quarta-feira, 4 de maio de 2022

AS CONTRADIÇÕES DA CIVILIZAÇÃO.

 AS CONTRADICÕES DA CIVILIZAÇÃO.

Você já observou que em nosso dia a dia nos deparamos com uma série de contradições no exercício da cidadania? Que muitas vezes os seus desejos podem parecer indispensáveis, mas, muitas vezes, podem ser superficiais? Para começar este momento e apresentar alguns conceitos importantes, vamos realizar um exercício.

Vamos observar a definição de CIVILIZAÇÃO E BARBARIE são elas:

 CIVILIZAÇÃO: Ato ou efeito de civilizar -se. Conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade.

      BARBÁRIE: Qualidade, condição ou estado de bárbaro; barbarismo, selvageria. Incivilidade, falta de civilidade.

 A TRAGÉDIA GREGA:

A Tragédia grega foi o primeiro gênero teatral que surgiu na Grécia. Depois dela, surge a comédia e a tragicomédia, ambos gêneros menores, segundo os gregos. Isso porque na Tragédia os personagens não eram pessoas comuns, como apareceriam nas comédias.

Além disso, os júris da tragédia envolviam pessoas escolhidas da aristocracia, enquanto na comédia eram pessoas comuns, escolhidas da plateia.

As tragédias eram textos teatrais que apresentavam histórias trágicas e dramáticas derivadas das paixões humanas as quais envolveriam personagens nobres e heroicas: deuses, semideuses e heróis mitológicos. Todas elas possuíam uma característica comum: tensão permanente e o final infeliz e trágico.

Segundo o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) a Tragédia era um gênero maior capaz de transmitir nas pessoas as sensações vividas pelas personagens.

Esse processo, definido por ele como “catarse” (limpeza e purificação), acontecia com o público que assistia à peça como forma de purificação e/ou purgação dos sentimentos.

Em outras palavras, a catarse representava uma descarga de sentimentos e emoções provocados pela tragédia.

            Em resumo: as tragédias gregas estavam relacionadas com a mudança da organização em clãs para a formação da Pólis. As tragédias nesse momento tinham o objetivo de contextualizar a convivência nas cidades, ensinar os homens a serem cidadãos. A tragédia traz dilemas morais e questões éticas. Segundo Jean-Pierre Vernant em seu livro Mito e Tragédia na Grécia Antiga, a tragédia marca uma etapa na formação do homem como sujeito responsável. As tragédias nas encenações teatrais tinham também uma função pedagógica.

            Observamos que as peças teatrais gregas chamadas de tragédia buscavam a apresentar às pessoas dilemas presentes em nossa vida e na história humana. Acredita-se que diante das peças teatrais da tragédia o homem aprendia como ser um sujeito ético, responsável, exercendo assim, uma função pedagógica, ou seja, os homens desenvolviam a noção de comportamento civil.

            Neste sentido o homem civilizado é aquele que estabelece regras para viver em sociedade, que é capaz de frear os seus instintos e desejos em nome de um bem maior, a vida em sociedade, que exige respeito ao outro em sua individualidade e coletividade.

            Entretanto, ao longo da história, é possível observar diversos atos humanos disfarçados de civilizados, que podem ser considerados bárbaros. Alguns exemplos:

- Guerras

- Escravização

- Exploração

- Domínio de outros povos.

            Sobre este assunto, alguns filósofos contemporâneos dedicaram especial reflexão. Os filósofos da ESCOLA DE FRANKFURT, porém antes é preciso compreender alguns conceitos, são eles:

 MODERNIDADE:

Do ponto de vista filosófico, “modernidade” é à consolidação de uma sociedade que não se vale mais da Religião como sistema de organização social. O conhecimento científico e a racionalidade renascentistas vai de forma crescente abalando a sociedade tradicional.

O século XVIII é decisivo. O Iluminsimo, aliado às transformações sociais, abalam a Monarquia a Religião. Na passagem do século XVIII para o XIX, as estruturas sociais da Europa são reconfiguradas, os discursos de validação de comportamento não se referem mais à tradição.

A organização social é pensada por especialistas. Vamos a uma exemplificação bem na moda hoje: se o indivíduo sente alguma dor, ele deve ir ao médico. Antigamente, se o indivíduo sentia alguma dor, ele deveria consultar o xamã, o pajé, o padre etc.

Uma das consequências mais evidentes refere-se à indeterminação que a Modernidade provoca nos indivíduos. Se o passado não é mais capaz de fornecer formas de comportamento que deem segurança ao indivíduo, ele deve forjar novos valores.

Contudo, ao se destruir o passado, a possibilidade de criação abre várias perspectivas, e nenhuma é capaz de oferecer garantia de sucesso. Um exemplo claro pode ser percebido em relação ao papel da mulher. O começo do século XX viu nascer movimentos sociais que exigiam participação política ampla.

Em suma, a Modernidade traz uma sensação de angústia constante, pois o indivíduo é confrontado com possibilidades de escolha de novas alternativas sem que saiba qual será o resultado dessas novas formas de viver.

Some-se a isso o desenvolvimento do Capitalismo que, ao introduzir um novo valor, a acumulação do Capital, provoca a erosão dos valores tradicionais. Nas sociedades da Antiguidade Clássica, a lealdade, a honestidade e a coragem eram virtudes valorizadas, pois estavam associadas ao ideal guerreiro.

Nas sociedades capitalistas, o dinheiro surge como bem supremo diante do qual os outros valores devem ser sacrificados. Duas consequências derivam-se dessas condições:

  • Sensação de Angústia de um sujeito em crise;
  • Fragmentação do eu, em virtude de se ver dividido entre valores humanos e valores econômicos.

PÓS MODERNIDADE: 

As características da pós-modernidade podem ser resumidas em alguns pontos: inclinação a se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas; colonização do seu universo pelos mercados (econômico, político, cultural e social); celebração do consumo como expressão pessoal; pluralidade cultural; polarização social devido aos distanciamentos acrescidos pelos rendimentos; falências das metanarrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Em outras palavras: a pós-modernidade tem predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a ideia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Estamos diante de um mundo virtual, imagem, som e texto em uma velocidade instantânea

 

A ESCOLA DE FRANKFURT:

            É diante do contexto, do início da chamada pós-modernidade, que os filósofos da chamada Escola de Frankfurt irão construir sua filosofia e reflexões sobre o mundo.

            A Escola de Frankfurt é assim chamada por compor um grupo de pensadores alemães do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, fundado na década de 1920. Entre os seus membros destacaram-se: Theodor Adorno, Max Horkheimer, Jürgen Habermas, Herbert Marcuse, Walter Benjamin. Os conhecimentos produzidos por esta escola ficaram conhecidos como teoria crítica.

            A reflexão, construída por esses filósofos, estavam voltadas para chamada sociedade de massa (termo que caracteriza a sociedade atual). A crítica realizada por eles está em observar e apontar que os avanços tecnológicos, foram colocados à serviço da lógica capitalista, ao mesmo tempo que o consumo e diversão passaram a ser promovidos como formas de garantir apaziguamento e a diluição dos problemas sociais.

            A crítica realizada, em especial pelos filósofos Max Horkheimer e Theodoro Adorno, é de apontar a o fracasso do projeto da modernidade, o projeto iluminista. Segundo eles a razão iluminista tinha como proposta a emancipação (liberdade) do indivíduo e o progresso social, porém terminou por levar a uma crescente dominação das pessoas em virtude justamente do desenvolvimento tecnológico-industrial.

            Na obra Dialética do Esclarecimento, escrita por Adorno e Horkheimer, os autores realizam duras críticas ao Iluminismo, que estimulou o desenvolvimento de uma razão controladora e instrumental (domínio da natureza e do próprio homem), predominante da sociedade contemporânea. Denunciam também a deturpação (desfigurada, deformada) dos indivíduos ao sistema social dominante e desencantamento do mundo

            Em resumo a denúncia realizada por esses filósofos é a morte da razão crítica, asfixiada pelas relações de produção capitalista. Assinalam ainda para desesperança de transformação desta realidade social, com a falta de consciência revolucionária, causada pela alienação da consciência das pessoas, por meio da indústria cultural.

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE – A DICOTOMIA EXISTENTE NAS RELAÇÕES HUMANAS

Você já parou para pensar que a definição do bárbaro é feita pelo civilizado? Nesse sentido, a relação passa de oposição para complementariedade. Podemos afirmar que esta narração se dá sempre na relação do discurso do dominante sobre o dominado, do colonizador sobre o colonizado etc. Em todos os campos bipolares um depende do outro para elaborar os seus discursos.

Há, nas relações humanas, a dicotomia existente entre as posições existentes, que são necessárias, tais como: Esquerda e Direita, Pobres e Ricos, Civilizados e Bárbaros, essas relações são necessárias para revelar as posições sociais, e as mudanças nas estruturas sociais, ao longo da história.

Para complementar a ideias da relação existente entre Civilizados e Bárbaros, assista ao vídeo de uma palestra do Profº Leandro Karnal que fala da relação entre Civilização e Barbárie

O vídeo está disponível no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=jpnQbYcwt8c

Observação: O professor faz algumas menções em sua palestra, que podem ser complementadas em alguns filmes. Caso você tenha tempo, assista-os:

- O poço (disponível no Netflix)

- Ensaio sobre a cegueira.

Ambos os filmes expõem os seres humanos a situações extremas, fazendo com estas pessoas tomem atitudes que revelam quem elas realmente são.

CONCLUINDO:

·         A civilização requer o controle dos nossos impulsos, emoções.

·         Barbárie são atitudes que estão ligadas a falta de civilização, a selvagerias.

·         Entretanto, diante de uma situação civilizada, observamos que há várias ações de barbárie;

·         A modernidade tem em sua essência justamente a construção de uma sociedade civilizada, pautada na razão humana, a partir dos ideais trazidos pelo Iluminismo.

·         A pós-modernidade caracteriza a sociedade em que vivemos, onde tudo é muito efêmero (passageiro) ligeiro.

·         A Escola de Frankfurt aponta os problemas dos projetos da modernidade, e que, o projeto pautado na razão humana, fracassou.

·         Civilizados e Bárbaros representa uma das formas da dicotomia existentes na sociedade, necessárias para afirmação de um grupo em relação a outros e promover, muitas vezes as transformações sociais

Como então responder a nossa questão problema: Como meus desejos podem ser compatibilizados com a cidadania? Observamos que é importante que tenhamos uma opinião, preferencialmente construída a partir de uma reflexão profunda sobre as nossas relações, mas não devemos infringir a lei. Sendo assim, os desejos precisam respeitar certos limites, precisam ser controlados. No entanto, vemos que muitos cidadãos não respeitam esses limites e praticam violências, com frequência, o que é inaceitável. Mas, o mais preocupante está no fato de não nos espantarmos mais com isso. No fato de termos banalizado certas violências.

·         - O que você pensa sobre isso?

·         - O que você pensa sobre as contradições da civilização?

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